domingo, 16 de dezembro de 2012

Máquina e imaginário - como um elemento formativo

Enquanto a tecnologia assenta no pragmatismo cientifico, com objetivos bem definidos, a arte é indiferente a qualquer “teleologia” .

Se a tecnologia, pelos recursos que tem de mobilizar, indissociáveis do investimento, do capital, tem de ser rentável para justificar o reinvestimento, em que o seu progresso depende, em grande parte, do seu sucesso junto do mercado, esta filosofia de continuidade implica que os objetos por ela criada sejam consumidos, numa perspetiva de quase adoração “tecno”. 

Esta construção do mercado do imaginário, da utilização lúdica e com prazer, na procura de um sentido estético desses objetos, só pode ser construído pelos artistas “operadores por excelência das linguagens”. É por isso que a industria, ciente desta realidade e perante a necessidade de conquistar os mercados, cada vez mais procura cooptar artistas, patrocinar eventos artísticos. Mesmo a nível da investigação de ponta nas universidades é frequente o contrato de artistas para colocarem ao seu serviço o seu génio criativo/artístico. Estes processos podem ser entendidos como que um contributo dos artistas para legitimar a sociedade industrial.



Agora, e no futuro será ainda mais evidente, esta correlação entre tecnologia e arte é necessária e legitima na construção de expressões artísticas assentes nas novas narrativas tecnológicas, que naturalmente irão trabalhar “como um elemento formativo”, deixando uma marca digital profunda nas memórias da nossa evolução civilizacional. 


MACHADO, Arlindo. Máquina e Imaginário : O Desafio das Poéticas Tecnológicas, S.P., Ed, Use, 1993