A Crítica da Técnica e da Modernidade
Em Heidegger e McLuhan
A Questão da Técnica
Martin Heidegger
Dentro do deslumbre das minhas mais recentes leituras - deslumbre por reencontrar conceitos familiares e que são agora revistos noutras perspectivas; deslumbre com o novo que nos interpela e nos fascina – encontrei algo que me interessa particularmente: a mediação, os processos de mediação. Mas antes disso,
A leitura “A essência da técnica não tem absolutamente nada de técnico” e "A Questão da Técnica" de Heidegger, relembrou-me a “Condição Humana” de Hannah Arendt. Em ambos os textos, publicados na década de 50 do século passado, são transversais questões como a utilidade da técnica, o seu contributo para o "desencobrimento", na procura da “verdade”, a unidade do universo, medida única, no micro e no macro, cósmica e universal. O Ser fora de Deus. O seu impacto na natureza e no homem: no sistema produtivo (homo faber, animal laborans), na cultura e nas artes.
"...encontramos as atitudes típicas do homo faber: a «instrumentalização» do mundo, a confiança nas ferramentas e na produtividade do fazedor de objectos artificiais... e a convicção geral de que qualquer assunto pode ser resolvido e qualquer motivação reduzido ao princípio da utilidade; a soberania que vê todas as coisas dadas como matéria-prima e toda a natureza como «um imenso tecido do qual podemos cortar qualquer pedaço e tornar a coser como quisermos» (Bergson, 1948), equacionamento da inteligência com a engenhosidade, ou seja, o desprezo por qualquer pensamento que não possa ser considerado como «primeiro passo... para a fabricação de objectos artificiais, principalmente de instrumentos para fabricar outros instrumentos e permitir a infinita variedade da sua fabricação..." (Arendt, 1958, p. 374).
Da leitura da “Condição humana” inferi que Hannah Arendt sofreu forte influência da II Guerra Mundial e do seu final nuclear quase apocalíptico. Fruto da ação do homo faber, de repente surgiu do "nada" uma fonte de energia que podia mudar o mundo, inclusive, aniquilá-lo. A demonstração da (in)utilidade da energia atómica, postulada no início do século por Einstein, vai recalcar a ideia que as possibilidades de manipulação da natureza pelo homem poderiam ter consequências imprevisíveis. Pareceu demonstrar, especialmente para o grande público, o assombroso poder da ciência, da técnica e, em última análise, o (des)controlo homo faber sobre a mãe natureza.
Não conheço a obra de Heidegger para fazer um juízo se o nuclear, na época, influenciou a sua obra como aparentemente o fez em Arendt. É provável que sim. [1]
Na "A Crítica da Técnica e da Modernidade em Heidegger e McLuhan" chega-me a questão da mediação e o seu lugar central na cultura contemporânea, onde o livro e a "Galáxia de Gutemberg" é considerada no processo de mediação, uma forma tecnológica tradicional... [que entretanto] "já entraram em crise".
Interessa-me especialmente estes aspetos nesta u.c., Processos de Comunicação Digital, pois a minha investigação vai centrar-se na promoção da leitura através da mediação digital. Sabemos do forte impacto do digital sobre a leitura nos suportes tradicionais, tangíveis. Lê-se agora mais, mas de outras formas.
"Para McLuhan, o remoinho é a metáfora do caos social produzido pelo engenho técnico humano. O poder desse remoinho é, actualmente, tão grande que é inútil tentar enfrentá-lo... deixando-se levar, poderá obter vantagens."
Mcluhan destaca três dimensões ou conjuntos históricos, técnicos e comunicacionais:
- A dicotemia Oral/escrito: "a invenção da escrita, para McLuhan, violou a multiplicidade sagrada dos sentidos que a oralidade preenche"
- O surgimento dos tipos móveis - A imprensa: "um modelo primitivo da tecnologia industrial: ao deixar-se ‘colonizar’ pela informação processada segundo este esquema, o sujeito moderno condiciona-se a aceitar, inadvertidamente, a tirania desumanizadora da vida mecânica"
- A Era da electrónica: "dominou as influências desintegradoras da imprensa e recolocou o humano na dimensão da ‘aldeia global’.
- A dicotemia Oral/escrito: "a invenção da escrita, para McLuhan, violou a multiplicidade sagrada dos sentidos que a oralidade preenche"
- O surgimento dos tipos móveis - A imprensa: "um modelo primitivo da tecnologia industrial: ao deixar-se ‘colonizar’ pela informação processada segundo este esquema, o sujeito moderno condiciona-se a aceitar, inadvertidamente, a tirania desumanizadora da vida mecânica"
- A Era da electrónica: "dominou as influências desintegradoras da imprensa e recolocou o humano na dimensão da ‘aldeia global’.
A imprensa não se confina a uma sequência de carateres, existem as imagens (como existiam as iluminuras nos incunábulos), na verdade, cumpriu (cumpre) um importante papel civilizacional. Existem muitos remoinhos tecnológicos, também é verdade. Acredito que a seu tempo tudo se tornará claro.
"A resposta a dar à cultura passa pelo reconhecimento, como disse, em algum lugar, G. Agamben, de que tudo se joga ‘em exibir uma medialidade, em tornar visível um meio como tal’, o que passa por ir além da instrumentalidade e da ilusão de controle."
[1] - Numa consulta ocasional, após a escrita da presente mensagem, deparei-me com o seguinte informação na Wikipédia:
"Martin Heidegger teve como aluna a judia Hannah Arendt, que se tornou também uma importante filósofa do século XX, com quem se envolveu amorosamente."
Está explicado porque é que encontrei bastantes semelhanças os textos.
Arendt, Hannah. A Condição Humana. Lisboa: Relógio D'Água, 2001
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